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Um ensaio sobre a leitura; o olhar de um navegador premiado, pelas páginas de #VixeJanaína // Prefácio

  • Foto do escritor: Paulo Daltro
    Paulo Daltro
  • 30 de abr.
  • 5 min de leitura

Atualizado: 1 de mai.

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O novo livro de Paulo Daltro se desenrola agora numa grande narrativa, mas ainda entrelaçada pela sua impressionante capacidade de nos contar histórias curtas. Digo isso, porque estamos diante de uma narrativa cheia de pequenas peripécias. Estamos na Salvador de 2003. Carnaval nas ruas na Baía de todos os santos. A paixão por um paulistano em meio ao empurra-empurra frenético, embalados pela axé music e a magia dos orixás.


Cidade que forjou esse menino de beleza estonteante, cabeleiras cacheadas, uma mistura das nossas histórias e crenças. Nascido e criado nos casarões históricos da velha Salvador. Não tinha outra, era a paixão típica dos carnavais. Damos um salto na história, não antes de saber que componentes tristes estão ao redor da vida de um adolescente gay, que perdera o pai e o tio em situações trágicas, bem como a delicada situação com sua mãe.


O salto nos leva para o interior da Bahia. Renatinho é expulso de casa. A sexualidade descoberta é uma vergonha para a família. Como para muitos de nós LGBTs, a diáspora rumo à cidade grande é sempre uma viagem de novas oportunidades. Aqui não se trata apenas de uma vida com um novo emprego ou de estudos, mas de viver sua sexualidade de forma mais plena. Uma viagem enviesada, vez que a grande metrópole não é o destino dele.  No entanto, nem sempre estas escolhas são espontâneas ou planejadas. Renatinho foi escorraçado de casa pela própria mãe, e não é spoiler, é uma realidade para muitos LGBTs quando a sexualidade é um grande empecilho para uma vida social satisfatória.


A saga de nosso herói é então feita de forma invertida. Ele sai de Salvador para o interior do estado. Essa viagem geográfica é feita para performar sua sexualidade, porém se torna ainda mais difícil por conta das máscaras mais rígidas e pesadas que se usa para disfarçar a realidade. Neste novo habita, a hipocrisia, o machismo, a homofobia são como véus que escondem a ordem reprimida dos desejos. Renatinho se apaixona, então, por Diego. Parafraseando o poema “Quadrilha” de Carlos Drumond: Renatinho que amava Diego, Diego que amava Alice, Alice que vivia no país das maravilhas. A sexualidade de Diego era clandestina. A promessa de amor era escondida nas ruínas de uma casa abandona. Renatinho tinha que fingir ser Homem. Não consegue. Então, a pequenez da cidade e de seus habitantes colocavam Renatinho dentro de um jogo permeado pela mentira e pela maldade. Um lado sombrio surgia nele. O amor de faixada entre Diego e Alice encontraram repositório ideal para alimentar sua parte sombria. Quem nunca sentiu ciúmes e arquitetou planos de vingança que atire a primeira pedra.


Saltamos de novo, agora no passado. Estamos no ano de 1989 e nos deparamos com as vidas de Deusa  e Augusto, os pais de Renato. É então revelado o título de livro. E sobre isso não vou dar spolier, vez que faz todo o sentido a mudança deste lado sombrio que arruinou as vidas de quem estava perto de Renatinho. Só adianto que tem a ver com os laços de amor que estabelecemos sem saber a origem. Renato não é mal como podemos perceber, embora ele se deixasse levar por aquele sentimento de vingança. Renato, como muitos outros LGBTs não conseguem maturidade emocional para relacionamentos gays. Somos sempre bombardeados da impossibilidade de vivermos nossa afetividade sem medo, sem segurança, sem continuidade. Daltro consegue nos envolver nesta história que vai narrando esses saltos no tempo na vida de Renatinho. E como Odisseu, acompanhamos a sua volta à cidade, envolto pelo perdão e por uma segunda oportunidade.


Outro pulo no tempo e estamos de novo no carnaval de 2003. A paixão invade o coração de Renatinho novamente. Mas agora é diferente. Sua natureza é de pura liberdade, mas também é permeada pelos sonhos. Nestes sonhos ele revive, temporariamente, a paixão do carnaval do ano anterior. Lembranças que comandavam seu coração secretamente. Daltro vai nos guiando entre o onírico e a realidade. Renato, de volta a sua terra natal em meio ao mesmo empurra-empurra do carnaval. Embalado pela a força telúrica de Salvador e a magia que sempre nos toma de conta. Uma página nova se abre para que ele escreva sua nova vida.


Para além da narrativa, que nos coloca neste saco de viagens de Renatinho, o autor de Vixe, Janaína vai nos conduzindo por histórias que representam muitas barreiras para a construção de afetividades. Temos um componente muito forte neste livro que se chama de rede de apoio, muitas vezes encontrado em outros familiares, mas especialmente nos amigos que escolhemos. E sobretudo, o amor de Mãe. Mas os preconceitos e desafios permanecem neste ambiente familiar provisório. Mais uma vez, vê-se a personagem principal em dilemas em que a fuga se torna a única possibilidade de existência. Damos um outro salto no tempo. São Paulo, a capital do sonhos e das possiblidades. Mas também a capital dos guetos, dos espaços de sociabilidade para LGBTS; a cidade que, também, pode nos engolir vivo.


“Meu lar é onde o coração está”. Renatinho responde quando perguntam qual o seu lugar no mundo. Não sei se Daltro pegou esta frase da música Oh, Lamour do Erasure, lá dos anos oitenta. Mas é muito sintomático de nossa natureza compulsoriamente perambulante, buscando por espaços de afetos genuínos. Essa frase ficou presa a minha memória, como se eu pudesse resumir este romance tão lindamente escrito nestas linhas marginais que LGBTS devem se equilibrar.


No final de tudo, como nesse livro, a gente quer perdão, redenção...Será? Daltro nos surpreende ao revelar que numa história errática de amor, vem a tiracolo muita dor que deixa várias cicatrizes. O autor nos surpreende ao nos colocar no prumo, ajustando os tempos e os espaços dessa história de amor. Ajustes que são feitos sem nosso consentimento, sem antevisão, sem permissão. Então, somos como peças de xadrez e nosso desafio é saber jogar o jogo. Existe algo predestinado e, então, padecemos nas mãos do Deuses ou será que temos alguma liberdade?


Convido-os a descobrir para onde as peripécias de Renato nos levam e as peripécias desse baiano arretadinho que acabou de chegar às plataformas digitais!


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SINOPSE:


Se sua matéria e sua alma estiverem em harmonia, não importa o curso que queiram lhe impor, pois não poderão traçá-lo por você. Porque ninguém consegue fugir de sua própria natureza; ela é indomável. Assim era Renatinho, a água corrediça que vinha se chocar com essas barreiras.



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O lançamento do E-Book acorreu na última terça-feira, 29.04 e já se encontra disponível no catálogo virtual do nosso mais novo parceiro, a Amazon! 📱🤓


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Sobre Roberto Muniz Dias

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Muniz é um mestre em literatura,  premiadíssimo; escritor professor, romancista, dramaturgo, Mestre em Literatura pela UnB, Doutor em Letras pela UFPI. Em 2009, obteve menção honrosa da Fundação Monsenhor Chaves pela obra "Adeus Aleto". Em 2015, recebeu o prêmio de melhor texto teatral da Fundação Cultural do Pará com "As divinas mãos de Adam" e, em 2018, o Troféu Em Cena, com "A bacia de Proust". Em 2015, recebeu o troféu Os Melhores do Teatro Piauiense, pela peça "Dorothy". Na área de educação, foi reconhecido pelo 16o Prêmio Cidadania em Respeito à Diversidade (2016), pelo 3o Prêmio Educando para o Respeito à Diversidade Sexual e pelo Prêmio Beijo Livre Direitos Humanos (2017). Dos demônios de Dante ao olhar perdido nas Madeleines de Proust, a literatura sempre foi o caminho para os devaneios do autor. Continua sonhando nas páginas dos livros com o magnetismo de Wilde, Virgínia e, principalmente, Clarice Lispector e Caio Fernando Abreu, suas grandes inspirações.


Paulo Daltro


 
 
 

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